por
Pedro Luso de Carvalho
RUI BARBOSA nasceu em
Salvador, Bahia, a 5 de novembro de 1849 e morreu em Petrópolis em 1923. O
período em que Rui viveu foi talvez o mais significativo e deciso da História
contemporânea, como bem observa Gladstone Chaves de Melo, na Introdução que
escreveu para o livro Rui Barbosa, Textos escolhidos (Agir, Rio
de Janeiro, 1968).
No plano histórico, vê-se
que na segunda metade do século 19 surgiram, caldearam-se ou contrapuseram-se os
fatores de desintegração da sociedade liberal-burguesa. Chaves de Melo dá
realce ao fato de que 1848 foi o ano do Manifesto de Marx, tão sem
inportância no nascedouro, mas que viria a desencadear um movimento
revolucionário expansionista, pan-elavista e ameaçador do mundo inteiro.
Por outro lado, o
princípio das Nacionalidades, consagrado no Congresso de Viena,
engendera o novo sistema de forças do equilíbrio europeu, dando como
consequência a unificação alemã e a unificação italiana, obra de Bismark e de
Cavour, respectivamente. A guerra franco-prussiana firmou a hegemonia da
Prússia e determinou a fundação do império alemão.
Quando Rui concluiu seus
estudos superiores já encontrou esse quadro na Europa e suas ressonâncias no
Brasil, bem como o início, aqui, de agitações políticas e sociais, a que ele
estará profundamente ligado: abolição, República, ditadura, afirmação do poder
civil, enfatiza Chaves de Melo.
Na Europa e no mundo
sucedem-se acontecimentos que representam a tomada-de-posição para a grande
partida de 1914-1918. Além da obra política e unitária de Cavour e de Bismark,
ocorreu a expansão colonial inglesa e francesa, a guerra hispano-americana, com
a independência de Cuba e a vitória dos Estados Unidos (1898), a guerra dos
boers (1900), a vitória de Porto Arthur (1904-1905), a Trípice
Aliança, entre a Alemanha, Áustria e Itália, o entendimento franco-russo.
Por mais alheada que
estivesse a sociedade por mais engolfada que andasse na belle époque, os
políticos mais responsáveis sentiam a gravidade da situação e apontavam para as
nuvens de borrasca no horizonte.
Ainda um pouco mais desse
período em que Rui viveu. A Conferência de Paz, em Haia, na qual Rui
tomou parte e teve papel destacado e original - como preleciona Chaves de Melo
-, foi um esforço inútil, para afastar a catástrofe. Sobreveio a guerra,
primeiro ato trágico da liquidação da civilização burguesa.
Ainda no caso do conflito
aparece a primeira consequência social da tomada-de-consciência das classes
oprimidas, a Revolução Russa, logo disvirtuada e transformada em
ditadura de grupo. Cinco anos depois, às vésperas da morte de Rui, assumia o
poder na Itália Mussolini, marco primeiro da reação totalitária nacionalista e
prólogo da guerra de 39.
Nesse período em que
viveu Rui, vê-se que, no plano estético, surgiu a renovação simbolista por
volta de 70 e, depois, os primeiros sinais da renovação modernista. Tanto de
uma como de outra coisa ficou isento Rui, conservando-se fiel ao classicismo,
ao parnasianismo e ao purismo, que lhe orientaram o gosto e a obra literária –
diz Gladstone Chaves de Melo; e acrecenta:
Viveu, pois, Rui no
período crítico do fim de uma civilização, mas não se deviou de seus ideais,
reagiu às inovações e lutou bravamente pela preservação das liberdades conseguidas
e contra os avanços do absolutismo, que não chegou a ver triunfante, aqui e
alhures, sob formas e ideologias novas.
Rui guardou o que de bom
teve a Revolução Francesa e a Declaração de 1776, contentando-se
em ser um soldado da democracia e um lidador da pureza republicana. Não foi um
homem de platéia; esteve no palco da História.
(In Rui Barbosa.
Textos Escolhidos. 2ª ed. Agir Editora, Rio de Janeiro, 1968.
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